sábado, 25 de dezembro de 2010

Atualizando Cândido - VI

CÂNDIDO OU O OTIMISMO, de François-Marie Arouet - Voltaire (1694-1798)

As desventuras da ama da Srta. Cunegundes:

(...) "Cenas parecidas aconteciam, como se sabe, na extensão de mais de trezentas léguas, sem que ninguém faltasse às cinco orações diárias ordenadas por Maomé.
Livrei-me com grande esforço da multidão de cadáveres sangrentos empilhados e me arrastei até uma grande laranjeira à beira de um riacho próximo. Ali, caí de pavor, de cansaço, de horror, desespero e fome. Logo depois, meus sentidos extenuados se entregaram a um sono que mais parecia desmaio do que repouso. Estava naquele estado de fraqueza e insensibilidade, entre a morte e a vida, quando me senti premida por alguma coisa que se agitava sobre o meu corpo. Abri os olhos, vi um homem branco de bom semblante que suspirava e dizia entre os dentes: Ó che sciagura d'essere zenza coglioni!"

(Voltaire)

"O ego é um pobre coitado, espremido entre três escravidões: os desejos insaciáveis do id, a severidade repressiva do superego e os perigos do mundo exterior."

(Sigmund Freud)

"Duas divindades dividem o altar dos ídolos estigmatizados pela espécie humana: o dinheiro e o sexo. Chamaram Deus para mediar as coisas, este devolveu a responsabilidade ao homem que, por sua vez a atribuiu ao mais 'proximo', pois que acumular riquezas e ter sob controle o instinto avassalador da reprodução conflitava profundamente com a sua natureza racional. "

(Jeanne Chaves)


Aisha e Alex: qualquer coincidência é exatamente o que é.


Ela vivia em um pequeno mundo ordeiro, limpo, com as rotinas bem estabelecidas. Não lhe faltava comida e diversão. Havia sempre afeto e broncas quando cometia algum desses desvios juvenis. Logo, todos esqueciam o desgaste, pois além da comida que lhe forneciam com fartura, sempre havia as guloseimas. As crianças lhe davam doces e aprendera a associar o sabor deles ao barulho do plástico sendo manueseado. Com que persistência e firmeza as assediava a fim de que os dividissem com ela, sempre conseguia algum. Podia dizer-se feliz.

Mas um dia, de repente, ela entristeceu uma tristeza sem nome, profunda, bem perto de uma doença psiquíca intratável. Essa tristeza a fez parar de se alimentar, o prazer em comer definhara a despeito dos esforços das pessoas com as quais convivia para alimentá-la. Nada a agradava e seu cansaço era mofino.

Sentia enorme falta de 'não sabia o quê' e essa falta se infiltrava feito líquido pelos vãos da sua vidinha protegida pelos prazeres gustativos.

Foi então que algo aconteceu. Ela o viu. Ele padecia da imobilidade das coisas que são eternas e em cuja constituição da matéria somente se sobrepunha a repulsa e o medo. Mesmo assim, ela o quis com seu querer extenuado.

Decidiu que ele seria seu. E o mimou e acariciou e protegeu. O escondeu de olhos alheios, pois tinha em si que seu instinto satisfeito de modo tão anti-natural levaria ao choque e a desaprovação dos seus conviveres.

Ela tentava alimentá-lo. O aconchegava ao peito mas nada acontecia. O rato de borracha, subtraído dos brinquedos das crianças e aninhado nos pelos do seu ventre, não lhe sugava as tetas. Ele não se movia e o cheiro que recendia dele era o dela própria.

Os dias passavam e seu estado esquálido só piorava, acompanhado de períodos de agressividade, sempre que alguém se aproximava, e períodos de profunda prostração e inapetência.

Em um de seus passeios noturnos, que agora fazia contra a vontade, teve a atenção despertada por uma criatura que o mistério das afinidades sugeria, poderia satisfazer completamente sua 'falta de não sabia o quê'. E ao que parecia, o sentimento era recíproco, pois ele a acumulava de fungadas e lambidas, a cortejava pisoteando, numa dança de acasalamento inócua, o chão ao redor deles.

Mas, a cada investida sobre o dorso dela, de pelos muitos brancos e flocados, ele grunhia e soltava uivos lamentosos como um choro. Seu dono o castrara havia algum tempo e sendo ainda jovem ele apenas se angustiava na impossibilidade de cumprir seu papel pré determinado.

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Crimes de guerra: escravas sexuais no Iraque e no Afeganistão.Uma menina iraquiana de 12 anos é obrigada a se prostituir nos subsolos de Bagdá, enquanto os guardas privados norte-americanos fazem uma coleta de poucos dólares e fazem fila. As moças são recrutadas no Leste Europeu com a promessa de um trabalho como doméstica em Dubai e depois dali são desviadas e segregadas ao coração do Iraque. As garçonetes dos restaurantes chineses de Kabul, por trás das luzes vermelhas, escondem o segredo que todos conhecem. O artigo é de Angelo Aquaro, do jornal La Repubblica, 20/07/2010.
***

(...)Uma das recomendações da subsecretária-geral da ONU foi que o Afeganistão faça mais para acabar com uma prática muito antiga de manter rapazes com menos de 18 anos (normalmente à volta dos 14) como escravos sexuais de senhores da guerra e comandantes militares. O tema é normalmente considerado tabu e as únicas referências que se encontram são do género: “Há mil anos que se brinca com rapazes, a prática chamada bacha bazi; para quê levantar agora o problema?”

(...)No Norte do Afeganistão, antigos senhores da guerra e comandantes dos mujahedin têm reatado a prática de abusarem sexualmente dos rapazes, e por vezes até de os venderem, contou no ano passado à Reuters o chefe da segurança na província de Kunduz, general Asadollah Amarkhil.

“Alguns homens gostam de brincar com cães, outros com mulheres. Eu prefiro brincar com rapazes”, explicou-se Allah Daad, antigo comandante da guerrilha naquela região.

Fonte:
https://www.feministactual.wordpress.com/category/violencia-sexual/


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(...) Esses casos são “comuns” dentro das penitenciárias brasileiras: recentemente uma detenta do presídio feminino de Ananindeua relatou ter sido testemunha de uma violação sexual contra uma jovem recém-chegada de São Miguel do Guamá. A vítima era portadora de deficiência mental e foi estuprada por diversos homens dentro de uma cela masculina. A presidiária afirmou que as cenas foram todas filmadas pelos policiais. "Há um mês, os policiais trouxeram uma mulher, que é doente mental, a Nazaré. Os presos a puxaram para dentro da cela e se serviram dela. O investigador ficava de cima filmando com o celular. Foram uns sete ou oito homens que abusaram dela, que estava doida mesmo", contou a detenta.

(...) De acordo com os relatos das presas, muitas vezes elas são obrigadas a manter relações com os presos ou com os funcionários em troca de comida e ou procuram se relacionar com um preso para evitar a violência de outros. “Ficava lá convivendo... ameaça e desprezo. Tinha que tentar ficar com um menino lá para tentar ver se não me faziam mais mal" contou a presidiária Valdecira Pantoja (Idem). A troca do corpo por “benefícios” não são denunciadas por medo da repressão. “As mulheres que sofrem violência sexual ou trocam relações sexuais por benefícios ou privilégios não denunciam os agressores por medo, uma vez que vão seguir sob a tutela de seus algozes” afirma o relatório.

Fonte: Folha de S. Paulo, 29/11/2007).

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• A cada hora, 16 mulheres enfrentam estupradores.
• Uma mulher é estuprada a cada seis minutos.
• A cada 18 segundos uma mulher é espancada.
• Desde 1974, a taxa de agressões contra as mulheres jovens (idades 20-24) saltou 50 por cento.
• Três em cada quatro mulheres serão vítimas de pelo menos um crime de violência durante a sua vida.
• Apenas 50 por cento dos estupros são comunicados e daqueles relatados, um número inferior a 40 por cento irá resultar em prisões.
• Uma em cada sete mulheres atualmente cursando faculdade foi estuprada.
• As mulheres jovens entre 16 e 19 anos de idade são mais susceptíveis de serem estupradas.

Fonte: http://www.experienceproject.com/l/pt/s/historias/Estat%C3%ADsticas-De-Estupro/188204

Uma hipócrita confraria que diz defender a vida, convenientemente esquecida dos seus sórdidos episódios de Inquisição e morte:

Tudo começou com a notícia de um homem sendo preso em Alagoinha (PE), no dia 26/02, suspeito de abusar da enteada de 9 anos. A garota estava grávida de gêmeos. Segundo a polícia, a criança sofria abusos desde o 6 anos. O homem também mantinha relações com a enteada mais velha, uma adolescente de 14 anos. A mãe da criança pediu para que o aborto fosse realizado. O pai solicitou que não houvesse o aborto, a mãe a princípio acatou, porém depois, a garota deu entrada no Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros, onde a gravidez foi interrompida. A gestação da menina de 9 anos era considerada de alto risco por causa do porte físico que é de 1,33 metro e 36 quilos. O que mais me causa revolta é que a Igreja Católica é contra o procedimento, o arcebispo de Olinda e do Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, o advogado da arquidiocese, Márcio Miranda, o pai da menina grávida, o pároco de Alagoinha, padre Edson Rodrigues, e dois conselheiros tutelares participaram de uma reunião para tentar impedir o aborto. Dom José Cardoso Sobrinho, acredita que a violência sofrida pela menina não justifica o aborto. “A menina engravidou de maneira totalmente injusta, mas devemos salvar vidas”, disse. O advogado da Arquidiocese de Olinda e Recife, Márcio Miranda, afirmou que vai denunciar o caso ao Ministério Público de Pernambuco ainda nesta quarta-feira (4). A ideia é impedir que o aborto aconteça. Mas aconteceu. A criança, a mãe, e o médicos resposáveis pelo aborto foram excomungados pelo Vaticano.


Fonte: http://adminhavida.wordpress.com/2009/03/04/vergonha-igreja-catolica-e-contra-aborto-de-garota-de-9-anos/

E segue a Ordem Ocidental machista, concubinada com a Ordem Oriental machista, doutrinadoras da transferência de culpa pela absoluta incapacidade do homem em controlar seus desejos obscuros e insaciáveis através das suas propaladas racionalidade e religiosidade, para a mulher; tida como apêndice imperfeito do homem desde a Grécia Antiga.
A humanidade, subjugada por dogmas incongruentes há mais tempo do que ela se conhece, os reproduz na política, nas escolas, nos locais de trabalho, nas igrejas, na família, no indivíduo, sub-repticiamente, metástases de si mesma. Apodrece sem nunca ter amadurecido. A discriminação e a crueldade sexual apenas mudam seus rótulos. Como uma empresa falida muda de nome, inventa valores, e continua a disseminar seus produtos e serviços funestos como se fossem sagrados.

Jeanne Chaves

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Quanto Vale Um Político Brasileiro?



61,8%

Ora, não é o percentual de reajuste dos salários dos indigníssimos deputados e senadores da república, por tabela, do presidente e vice-presidente, que revolta, não meu senhor, minha senhora, nem a disfaçatez das justificativas:

“Eu acho que nós devemos remunerar dignamente e exigir resultados positivos dos seus representantes." (Nelson Marchezelli)

Ordenando o pensamento por importância de sucessão de atos: "primeiro eu me pago, com o seu dinheiro e depois você me cobra suas ninharias e mesmices, se eu não estiver ocupado, montando negócios, retendo processos que prejudicariam os meus outros negócios, aprovando os que são bons para eles e reunindo colegas para discussões e acordões vantajosos com lobistas de grandes empresas e conglomerados."

Cá entre nós 'Nelsim', progênie da democracia tupiniquim, raciocinemos: o povo está repleto do 'espírito de natal', desse 'espírito' que superlota centros de compras, multiplica o lixo, contibui para a cronicidade de doenças degenerativas dos recicladores de peças de informática e eletroeletrônicos lá dos confins da China e Taiwan, que aumenta a emissão de gases poluentes e engarrafa o trânsito aos sábados e domingos nesta época. Desse 'espírito' que faz parecer o décimo terceiro salário uma dávida infinda. Embriagados de consumo e acalentando Copa do Mundo e Olímpiadas como bens materiais próprios e inalináveis. Então, na calada da noite, o atentado contra o pudor, parecendo cruzamento de galinha d'angola: quando se pensa que é, já foi.

Os 'critérios' para a concessão dos seus reajustes e o 'modus operandi' são sempre os mesmos, mais respaldados na legislação, aos senhores tão generosa, do que nos vários caracteres que tanta boa vontade para consigo mesmos possam assumir, inclusive o mau caráter.

Como a democracia pode ser vilipendiosa! Há certamente alguém que de forma alguma participou do rateio para aquisição desse prêmio de fim de ano, e no entanto foi galardoado com tamanho presente de grego, mais um, de muitos passados e futuros.

Depois será a vez dos doutos e honestos juízes, e eles dirão: não podemos ir contra a lei (principalmente porque ela lhes é conveniente). O ciclo vicioso mais uma vez se fechará, e até quando não haja mais Copas nem Olímpiadas no Brasil, restará o futebol, o carnaval, o culto, ou a missa, e a televisão de Pinóquio...

Quanto custa um político brasileiro? O mesmo tanto do povo que o elegeu: baratinho, baratinho.

Jeanne Chaves

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Atualizando Cândido - V




CÂNDIDO E O OTMISMO, de François-Merie Arouet - Voltaire (1694-1798)

Pangloss e a genealogia da síflis:

"- Ah, meu caro Cândido! O senhor conheceu Paquette, aquela linda acompanhante de nossa augusta baronesa; provei nos seus braços as delícias do paraíso, que produziram estes tormentos do inferno que hoje me devoram; ela estava contaminada, talvez tenha morrido disso. Paquette recebera esse presente de uma franciscano muito hábil que tinha voltado às origens, pois recebera aquilo de uma velha condessa, que o recebera de um capitão da cavalaria, que o devia a uma marquesa, que o ganhara de um pagem, que o recebera de um jesuíta, que, sendo noviço, recebera-o em linha direta de um dos companheiros de Cristóvão Colombo. Quanto a mim, não o darei a ninguém, pois estou morrendo." (Voltaire)

"Enquanto a Terra faz por si o que é preciso, desesperamos, desconhecedores dos seus objetivos, cegamente dos nossos."

"Deus não joga dados com o universo". (Albert Einstein)

Grandes pândemias fazem parte da história da humanidade: a peste peloponesa - 430 aC; a peste de Antonine - 165 dC; a peste de Justiniano - 541-542 dC; a peste negra -séc. XIV; a gripe espanhola - 1918. Entre outras não menos merecedoras de destaque: varíola, tuberculose, lepra, sarampo, póliomielite, síflis, etc.

Em 2011 a pândemia da Aids completará 30 anos e até 2020, matará 68 milhões de pessoas segundo a UNAIDS, Programa de Aids da Organização da Nações Unidas.

O ótimo de uma população para uma determinada região geográfica é o número ideal de população humana ecologicamente sustentável e esta deve ser sempre menor que a disponibilidade de recursos naturais.

Não é tarefa fácil determinar o ótimo de uma população, e até que o homem se dedique a ela com menos avareza e mais desprendimento, a Terra continuará a desenvolver seus mecanismos de controle populacional, à revelia das tecnologias e do capital investido para esta finalidade.

Jeanne Chaves

domingo, 12 de dezembro de 2010

Atualizando Cândido - IV




CÂNDIDO OU O OTIMISMO, de François-Marie Arouet - Voltaire (1694-1798 )

A Miséria Física de Cândido:

- Meu amigo - Disse-lhe o orador depois de passar uma hora inteira pregando sobre a caridade - O senhor acha que o Papa é o anticristo?
- Ainda não tinha ouvido falar disso - respondeu Cândido - Mas, sendo ou não o anticristo, preciso de pão.
- Não merece comer pão! - Disse o outro - Vá patife, vá miserável. Afaste-se de mim!

(Voltaire)

"Dos feudos teocráticos católicos à ascensão da burguesia e daí ao capitalismo, passando pela monarquia teocrática até a democracia no ocidente. E... De volta a um novo modelo, baseando em padões antigos, de teócracia carismática coorporativa cristã ocidental."  (Jeanne Chaves)


"A ideologia é um sistema de idéias, de representações que domina o espírito de um homem ou de um grupo social." (Karl Max)


Jeanne Chaves

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Atualizando Cândido - I I I

CÂNDIDO OU O OTIMISMO, de François-Marie Arouet - Voltaire (1694-1798)

"Cândido sobrevive a guerra entre búlgaros e àvaros e foge: na aldeia vizinha, velhos crivados de bala viam morrer suas mulheres degoladas, que seguravam os filhos nas mamas ensanguentadas; acolá, mocinhas estripadas depois de satisfazerem as necessidades naturais de alguns heróis, davam os últimos suspiros; outras queimadas pela metade, imploravam que terminassem de matá-las (...). Havia miolos espalhados pela terra ao lado de braços e pernas (...)". (Voltaire)



"Mas, o que seria compreender profundamente a condição humana, senão aceitar o falecimento paulatino das mais bem intencionadas potencialidades coletivas da nossa própria condição?"


Das armas artesanais primitivas: lanças, espadas, catapultas e canhões, aos mísseis, bombas de nêutrons, bombas atômicas, e às armas químicas e biológicas, produzidas em escala industrial e, com tudo que é pertinente: espionagem e contra espionagem, publicidades de guerra, guerra fria, terrorismo, num efeito dominó que nunca cessa.


Foram trinta e seis mil e quinhentos dias, com o primeiro iniciado em 1º de janeiro de 1901 e o último findado em 31 de dezembro de 2000. Em nenhum dos dias do século XX a paz visitou a Terra e esta nunca sangrou tanto. A análise histórica dos fatos desse século funda um grotesco contra-senso na correlação paz-prosperidade. O homem fez guerra pela paz e fez guerra pela guerra, fez guerra espúria, como se qualquer outra não o fosse, e a chamou de santa. Fez guerra apenas para mostrar ao mundo que podia fazer, e assim salvaguardar suas posições de líderes mundiais através do medo.


O homem jamais se especializou tanto no ofício de matar. A completa falta de territórios geográficos para serem conquistados levou as nações mais ricas do globo a desenvolverem seu mais alto grau de paranóia e temor, mas também à criação de mecanismos de colonização financeira através da imposição de sua cultura e hábitos.


Em meados dos anos cinquenta, como agora, vários povos 'consumiam o mundo feito coca-cola'. E estar em paz significava, meramente, não se envolver pessoalmente, como nação, em nenhuma guerra ou conflito externo.


Agora, neste final de década, início do século XXI as perspectivas não mudaram. Os espólios mais duradouros das várias guerras e conflitos detonados pelo homem são as guerras. O homem que restou continua sendo o maior e mais sanguinário predador de si mesmo.


A responsabilidade pela elaboração da arte da paz permanece relegada ao indivíduo como se ele, sozinho, tivesse condições espirituais de compreender a magnitude dos desastres de uma guerra ou a grandiosidade de apenas um dia de paz na Terra.


Quem sabe, com a ajuda da tecnologia, sem subterfúgios para a nossa natureza selvagem, pudéssemos contabilizar os dias de paz ao modo que se faz com os impostos e as mercadorias das bolsas de valores? E ao lado de cada impostômetro ou placa digital de exibição dos índices das bolsas, da cultura da guerra capitalista, tivéssemos indicadores da paz no mundo, com a esperança de, um dia, se ler:


"Hoje, nenhum ser humano perdeu a vida pela intervenção deliberada de outro ser humano."


Com a mesma eficiência que desenvolvemos os fundamentos das ‘culturas de guerra’, as culturas da paz devem ser produzidas coletivamente, ao mesmo tempo e além das retóricas, até que as primeiras sejam completamente suplantadas.


Utopia no século XXI é a conveniência criminosa de não reconhecer que já dispomos dos meios materiais e tecnológicos para nos levar à paz.


Jeanne Chaves

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Atualizando Cândido - I I


CÂNDIDO OU O OTIMISMO, de François-Marie Arouet - Voltaire (1694-1798)

Cândido e Sua Própria Institucionalização

"Existe um único Aparelho (repressivo) de Estado, enquanto que existe uma pluralidade de Aparelhos Ideológicos de Estado." (Louis Althusser)

"Eis que o senhor é o apoio, o sustento, o defensor, o herói dos búlgaros; sua fortuna está feita, e sua glória, assegurada."

"Imediatamente, põem-lhe correntes nos pés e levam-no ao regimento. Fazem-no virar à direita, à esquerda, levantar a vareta, baixar a vareta, deitar sobre o rosto, atirar, dobrar a marcha e dão-lhe trinta cacetadas; no dia seguinte, faz o exercício um pouco menos mal, e só recebe vinte cacetadas; no terceiro dia, só lhe dão dez, e é visto pelos colegas como um prodígio." (Voltaire)

O Homem 'moderno' de mentalidade mediana e sua lide com o Aparelho Ideólogico da Informação (Classificação de L. Althusser), ou...


"O Bombeiro Big Brother"


Após quarenta minutos aguardando uma mesa, o casal finalmente se acomoda e pede duas refeições ao garçon da única lanchonete daquele centro de convenções. Aquela hora, em que o dia ia na metade e o calor era toruturante sob toda a extensão da lage mal cuidada, repleta de fissuras e infiltrações, a jovem, filha do senhor pálido e franzino que a acompanha, acomoda várias sacolas contendo portfólios e lembranças do congresso em uma cadeira e olha o movimento das pessoas em volta. Quando seus pedidos chegam ela ainda se encontra distraída com o ambiente, se pondo a comer de forma autômata.

Um homem que observava o casal percebeu imediatamente quando o senhor pálido principiou a ficar cinzento, suas pernas ficaram frouxas debaixo da mesa, seus braços se distenderam sobre ela e sua cabeça pendeu para frente, quase caindo sobre o prato trivial. A jovem nada notara. O homem se aproxima deles e alerta a moça para o estado do seu acompanhante. Por momentos, ela se desorienta completamente.

Com a atenção despertada pelo alvoroço que se formou ao redor do casal, um garçon sai correndo em busca de ajuda. Eis que a mesma se encontra a poucos metros do local, andando vagarosamente sobre uma velha passadeira vermelha e puída; um par de bombeiros. O garçon relata o fato, seus gestos são nervosos, em verdade, ele tem pressa de que seja dado um destino àquele homem, afinal, as várias, muitas, mais de mil pessoas que circulavam por alí poderiam pensar que a comida fizera mal.

Agora, os mais de mil pares de olhos vagam entre os bombeiros e o homem com seu ataque: ansiosos. Impacientes.

O mais alto deles, com quase dois metros de altura, moreno, vestindo uma camiseta vemelha colada ao corpo, cujas mangas dobradas imitam o estilo baby look e evidenciam os bíceps trabalhados, se mostra inteiramente consciente de sua sensualidade. Olha em volta a fim de saber se a assistência também estava consciente dela. Caminha muito, mas muito lentamente, tentanto tranformar os trinta metros de passadeira que o separava do local de atendimento do caso em pelo menos trinta quilometros de fama temporária. Seu parceiro, mirrado, opaco às vistas do 'grande público', o segue na mesma irritante velocidade, sem deixar de olhar ao redor.

Enquanto isso, o homem do ataque verte saliva misturada a restos de comida, dentro prato.

Ao se aproximarem, o bombeiro mais alto toma o pulso do homem e olha ao redor, se certificando de que estava sendo observado. Perscruta a artéria jugular e olha ao redor. Levanta a cabeça do homem para desobstruir sua garganta cheia de saliva e comida e olha ao redor. Olha ao redor novamente, noutra direção, e retira da bolsa que traz amarrada na cintura e na coxa um estetoscópio e um tensiômetro. Desenrola o tensiômetro e olha ao redor. Instala o tensiômetro no braço do homem e... Adivinhem... Olha ao redor. Coloca o estetoscópio no pescoço, e todos já sabiam que ele olharia ao redor. Estica o tubo do estetoscópio, tal carícia fálica e, olha ao redor. Pôe as olivas nos ouvidos e olha ao redor. Leva o diafragma ao peito do homem sem tirar os olhos da platéia. Compenetra-se na auscuta dos batimentos cardíacos, por instantes, só o tempo necessário para não se esquecer do público, e o agracia novamente com seu fascinante olhar de candidato a herói.

É impossível não detectar nele os cacoetes de estrelismo, aprendidos e reproduzidos ao melhor modo dos 'Cães de Pavlov', o que faz dos procedimentos de primeiros socorros um 'sucesso', mas o paciente se vê obrigado a tocar a campaninha dos portões do céu, enquanto os que estão ao redor olham a vontade.

Jeanne Chaves

domingo, 21 de novembro de 2010

Atualizando Cândido - I

CÂNDIDO OU O OTIMISMO, de François-Marie Arouet - Voltaire (1694-1798)

"Toda ação provoca uma reação de igual intensidade, mesma direção e em sentido contrário". (Isaac Newton - 1643-1727)




"Tudo foi feito com uma finalidade, tudo existe necessariamente para o melhor fim." Pangloss, filosófo e professor de Cândido, Barão de Tunder-ten-tronckn.

A Senhorita Cunegundes, amada de Cândido, se convence da Lei de Causa e Efeito após presenciar as aulas de física experimental que Pangloss ministrava, atrás do mato, à camareira de sua mãe.

É claro que poderíamos pensar, e o óbvio seria, vocês hão de convir, que o mal fornece a medida do bem, jamais o contrário, entretanto, o bem e o mal tem causas e efeitos diversos, nem sempre na mesma intensidade, na mesma direção e em sentido oposto, o que não quer dizer que seus desencadeamentos em um grupo, sociedade ou nação não possam ser avaliados em termos de ética e moral. A massificação de valores deturpados por falsos 'heróis', patrocinados por marcas famosas ou na fila da sucessão, surge de conhecimentos básicos acerca de comportamento humano, aí vão dois deles: curiosidade sobre sexo e a maledicência natural do indivíduos nos meios sociais, seja qual seja. A polemização, mediocremente improdutiva, dos comportamentos sob confinamento, e a máscara de refinamento e luxo dada ao cortiço via satélite, são os efeitos da busca do dinheiro a qualquer custo: enquanto um pretenso 'herói' angaria um milhão, em qualquer moeda, os promotores do "grand cirque pathétique" enriquecem exponencialmente, e se consolidam como mercadores vulgares num livre comércio onde a moeda virtual de troca são os valores do individuo, neste caso, a falta de alguns deles. Então, podemos abstrair que o dinheiro é a causa. Bom, torçamos para que o efeito colateral seja a politização verdadeira e séria da questão em algum lugar que não seja nossas caixas de entrada de e-mails, repletas de solicitações para que se vote em um ou outro 'herói' ou 'heroína' da manada.
Jeanne Chaves

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Sobre As Heresias Do Sec. XXI

Um texto poético é sempre um texto. Nasce na plangência do medo, na qualidade de uma alegria, nos motivos de uma cólera, na catarse de uma tristeza ou, inesperadamente, da contemplação e reflexão. Elo íntimo, unificando autor e leitor em ato reflexo, no qual, ambos 'se pensam', e têm seu momento ágape. Assim o exige a condição precípua de comunicar, mas esta condição nem sempre implica entendimento, aceitação ou rejeição do conteúdo de um texto, pois que este nada mais é que afetos grafados em símbolos pronunciáveis à língua e ao pensamento. Contraditoriamente, é desta forma que se dá a construção do conhecimento do ser humano, através dos tempos, no que lhe é possível e permissível conhecer.

Assim, foi que despertou minha atenção os poemas "HERESIAS", do conterrâneo Luís Eurico, cujo link disponibilizo abaixo:

E que me forneceu a seguinte reflexão:

"No interior Ele está. O mais, é este 'mosaico instável', limitadamente temporal e obliterado por valores confusos, por semelhanças que Lhes dão. Pode-se ser humano sem ser cristão (estes, raros, são criaturas Dele, também.) e pode-se ser cristão sem ser humano (estes, mais comumente, são criaturas de si próprias). Seriam estas, então, as fatais heresias."

http://www.euliricoeu.blogspot.com
Jeanne Chaves

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Crítica Literária Para "Estado Bruto" - Janilto Andrade





O romance moderno, em sua infância, travou uma dura quebra de braço para se fazer respeitável. É frequentemente, em narrativas romanescas dos séculos XXVIII e XIX, a recorrência a curiosos artifícios, a fim de dotar esses textos de veracidade. O narrador, por exemplo, às vezes, assegura ter conhecido tal ou qual personagem; ou fornece um endereço real, onde teria ocorrido o conflito.
Quem é do ramo das letras sabe que o que importa não é saber se o mito num romance corresponde a um acontecimento de realidade, mas apreender, na leitura, o que o escritor manifesta a respeito de fenômenos da realidade. Não será a exata adequação do mito com um fato real que dará excelência a um romance. Será, sim, a agudeza das revelações que o escritor faz de comportamentos humanos. Atitudes subjetivas ou sociais.
O mito, num romance, é a trama das ações vividas pelas personagens. E isso que constitui um universo ficcional. É a pequena história. Se a pequena história possibilita a construção de uma grande história, aí o texto romanesco se afirma como literatura. Dependerá do tamanho da grande história a riqueza do texto.
São as leituras que vão cosntruindo o tamanho da obra literária. Imagine-se o tamanho da Ilíada...!
Minha breve leitura de Estado Bruto, que parece ser a primeira leitura desse texto, desejo que seja acrescida de outras, para a construção da grande história, que virá a ser sugerida no mito fundado por Jeanne Chaves, com o encontro de Max e Uélito.
Faço referência a um aspecto que me despertou especial atenção. A existência de um drama romanesco se constrói numa tensão dialética. No texto de Jeanne, o eixo dialético põe as duas personagens numa prisão. Mas a prisão, o espaço físico, é apenas alegoria do cárcere interior em que se debatem ambos. Um cárcere de calúnia; o outro, no da rejeição. Rejeição e calúnia originam conflitos humanos sem tamanho. Se Braz Cubas diz que não teve filhos para não transmitir o legado da nossa miséria, a personagem de Jeanne diz: "Não vou procriar para ver meu filho se tornar mais uma vítima de discriminação."
A mim, como leitor, interessam-me algumas coisas neste romance. Algumas imagens, por exemplo: "... liberdade é (...) cometerem coisas de pássaro..." Alguns momentos de reflexão a respeito do ceticismo, o ceticismo na postura de Uélito, por exemplo.
Mas, assim, o que me interessou, mais de perto, como leitor, foi precisamente o cárcere da rejeição. Cárcere vivenciado por Max. Destaco o que me pareceu mais significativo em Estado Bruto. Aqui na fala de Max: "O homossexualismo é ancestral, Uélito, e não só na espécie humana. A organização do homem em sociedades e civilizações, sob a influência de religiões de culto monoteísta, determinou uma ordem social que vinculou amor à reprodução. Minha prisão vem de antes de eu nascer."
Ao ler essa concepção que a romancista faz Max expressar, é impossível deixar de fazer referência a Otávio Paz: "O erotismo é metáfora da sexualidade. É triunfo do homem sobre a imposição de procriação da natureza. Para a personagem de Estado Bruto, é libertar-se da "influência das religiões de culto monoteísta". E mais, ainda com Otávio Paz: "O erotismo é a cota de paraíso que coube ao ser humano neste mundo." É isto, parece-me, a grande descoberta das personagens desse romance. Descoberta vivida nas grades da prisão, antes prisão existencial que prisão física imposta pela organização social.
Pode-se prender um ser humano, mas ele, ainda assim, pode estar em liberdade.
Janilto Andrade

Professor de Teoria Literária e História da Arte da Universidade Católica de Pernambuco







terça-feira, 9 de novembro de 2010

Essência



Acho que sempre esperei sentir o cheiro do melaço da cana na minha primeira respiração.Eu esperei ser aquecida em roupinhas de cambraia, bordadas pelas mãos das avós, tias, madrinha, e vizinhas. Um gosto irrecusável da florada do caju na boca. Esperei que meus primeiros brinquedos: meu chocalho, a caixinha de música... Fizessem o mesmo som da garganta da acauã... Do curió. Acho que sempre desejei que o primeiro lugar destinado a mim na casa, tivesse uma grande janela de onde eu pudesse olhar o colorido de coroas-de-frade no quintal. E num domingo, quando todos se reunissem para comemorar as chuvas vindas das preces a São José, eu passaria de mão em mão, e cada uma delas cuidaria de me empanturrar de rapadura batida, calda de doce de jaca, suco de umbu cajá, pamonha de milho fresco. E com mais um pouco de tempo, o interminável enxoval feito para o meu nascimento seria substituído pela carícia do algodão cru, fiado em teares nos fundos da casa, e tingidos em tachos fumegantes de barro.

Mas, por força do êxodo, tudo ao que os meus sentidos pueris se ativeram era tão cinzento e frio. Tais informações não coincidiam com as que os meus genes já conheciam. A chuva que caía não era rezada, dela não se esperava abundância no roçado. Não, ela não faltava, como imposição de castigo imerecido. Era constante, acabrunhada, e, excomungada. Refratando o asfalto feito rio, cujas margens brotavam concreto. Nenhum júbilo lhe abria as bocas nem o chão. Ela era tão sem graça, tão sem cor. Nenhum arco-íris a precedeu, só a fumaça.

Meu lugar na casa mostrava quadrados de grades pelas quais eu via alvenaria, alvenaria, alvenaria, antenas e muitos fios, irrisórios pombos, pardais ocasionais. Uma selva de almas nas mãos de nenhuma das quais a minha passou.

Tudo cheirava a Tietê. E os gostos, fuligem. E eu era tão nua. Tão farta da falta da identidade que meus genes conflitavam.

Quase fui triste, como se a ausência de explicação para mim não fizesse sentido. Temendo que quando, por ventura, um dia fizesse, eu perdesse todo o sentido.

Ilustre desconhecido, o destino é um poeta, fez do sal das salinas daqui, o mesmo tempero das minhas veias. Agora me basto. E do meu lugar jamais fui tão plena. É ele quem me conhece os canaviais e coqueiros, o mar, o cerrado, e a caatinga.

Voltar à minha terra acidental de nascimento nunca é como me visitar. É uma gozadora concessão do destino a que ela me visite. Ela, estrangeira que perdeu a bússola na pressa de partir e se partir, como quem não se quer mais.



Este texto é dedicado, com um carinho imenso, a Marcelo Rocha, com umas observações:

Somos esse povo grandioso sem jamais ter utilizado qualquer tipo de medo, de fraqueza, de insegurança. Nós não os conhecemos. Somos quem somos porque ainda sabemos o que somos.

E, à Mayara Petruso, incitadora do afogamento de nordestinos, estudante de Direito que fez torto, rogarei uma praga no estilo Bento Carneiro, personagem de Chico Anízio (cearense):

“Tomara que ao transitar com seu carro, lavado de chuva ácida, em um dia de engarrafamento quilométrico, pela Marginal Pinheiros, lhe tombe em cima um caminhão carregado de rapaduras, e, que se elas não lhe abrande a mediocridade, ao menos, lhe torne a vida mais doce."

Quando isto acontecer, vem pra cá que serás bem recebida.



Jeanne Chaves

sábado, 6 de novembro de 2010

Limiar Literário



Disseram-me que em literatura é preciso adotar uma linha, moderna ou conservadora. Mas, tudo disso a que me exponho, novo ou antigo, me é contemporâneo como se sempre tivesse existido. Conteúdos repaginados, renomeados que, igualmente, sempre existiram, e não há crueldade litarária maior do que reprimir a expressão de um texto, com forma ou disforme, alinhado ou marginal, lírico ou concreto, em função de um contexto modal. Talvez, ser moderno seja admitir que o futuro nunca chega e que o antigo nunca passa. Quem sabe, não se angustiasse tanto os momentos em que um texto precisa nascer, nem matar o seu criador. O estilo litarário, talvez, seja uma possibilidade de táxon dos nossos neurônios-espelho, se, ou quando isto for confirmado, num futuro que nunca chega, mas chegado será passado, nos edifique um "Desmantelo Azul" e nos descosntrua Kafka, para não pensarmos que, como a de José, a nossa festa acabou.


Jeanne Chaves

Sexo Coletivo




Sexo as fartas é fato.
A três por quatro.
A dois. A três. De quatro.
Salubre. Santificado. Bestial.
Frustrado. Feito bom ou mal.
Solitário. Trocado. Virtual.

De tudo que nos é emblemático
- pobre dele! -
é ele o recipiente natural.

Romântico. Comprado. Normal.
Vendido. Enganado. Violado.
Anárquico. Genérico. Institucional.

De tudo que nos é próprio
- Que destino! -
por agora, no futuro e ancestral,
ele, é a propriedade mais banal.
Jeanne Chaves

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A Ética da Ética








O jogo valia a ascensão à primeira divisão dos times estaduais de futebol. Quarenta e cinco minutos do segundo tempo, zero a zero no placar.

Ele recebeu um passe preciso na meia lua. Ergueu a bola, girou o corpo e chutou, com a consciência de que recebeu o passe em situação de impedimento.

A bola viajou e numa curva perfeita descansou na rede. Rapidamente ele se levantou e ainda de costas para o seu campo de defesa, ergueu o braço e gesticulou negativamente.

O juiz, com o apito a meio caminho da boca olhou para o bandeirinha reduzindo a corrida para o centro de campo, na intenção de validar o gol. As torcidas, pasmas, fizeram silêncio. Os jogadores do seu time partiram para cima dele.

O capitão do time praticamente cuspiu na cara dele:

- Tá doido? Acabou de jogar milhões em patrocínio da primeira divisão no lixo. Tu tá acabado... Canalha!

O juiz, gritando para se fazer ouvir entre os palavrões dos jogadores e os aplausos da torcida beneficiada com a anulação do gol, disse:

- Você é um homem!

Tomando a bola nas mãos, correu para o centro do campo e apitou o final da partida.

A torcida do time do anti-herói, gritou:

- Frouxo! Viado!

Alguns lhe atiraram coisas no caminho dos vestiários.

O técnico, fleumático, acusou:

- Você conseguiu ferrar com tudo! Eu mesmo vou pedir sua dispensa. Futebol é esporte pra macho, seu merda!

A quebradeira foi geral nas imediações do estádio. Ninguém se identifica com perdedores e o duelo que não fora ganho em campo prosseguiu fora dele. Suas almas tinham que ser lavadas com brutalidades que pudessem ser contadas em zombarias para os seus pares.

E o anti-herói do jogo? Perdidos os patrocínios individuais, aceitou a proposta de sociedade em uma academia de ginástica elegante onde, além da participação em outros lucros, teria uma porcentagem de comissão sobre a venda de esteróides anabolizantes.

Súmula: 'ao se pensar em ética, há que se saber a quem qual interessa'.




Jeanne Chaves






terça-feira, 26 de outubro de 2010

História Muito Infantil ou Democracia Selvagem






Naquele último ano da década de 2010, os Tupiniquins todos se juntaram na taba, cansados e sujos. Nem Iara Mãe D'água conseguiu lavar tanta sujeira e cansaço. No domingo, na ocara, reuniram-se, curumins e cunhatãs, guerreiros e índias, pajé, cacique e anciãos. Determinaram a extinção dos Tucanos. Vieram Mula Sem Cabeça, Saci Pererê, Boi Tá Tá e Caipora interceder pelas aves bicudas, argumentando:

- Já se foram a carnaúba e a peroba, suas caras brilham delas. Que mal fizeram os bicudos?

Então, o Cacique disse com seu rosto brilhante de peroba:

- Eles comem demais. A continuar assim não restará nada para as outras aves. O equilíbrio da floresta correria grande risco,, e não sobrariam nem as fábulas.

Uns tucanos bateram asas em debandada, outros tentaram se transmutar em aves diferentes, outros menos espertos disfarçaram e choraram.

Estavam salvas as fábulas... E as consciências tranquilas por haverem ajudado a preservar o equilíbrio da selva

Quando não restava mais nenhuma forma de vida tucana, os Tupiniquins tomaram pucus diferentes.

Jeanne Chaves




quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Festa Pobre


Para bom entendedor meia palavra basta, para todos os outros existe o Photoshop!

A distibuição das fatias de mais esse bolo ja começou. Façam fila! Parentes e amigos primeiro! Quem não estiver satisfeito vista a roupa e vá embora. A fila tem que andar no cabidão...

Jeanne Chaves

domingo, 17 de outubro de 2010

Riscos Brasil:

Com um presidente sem maioria no Congresso Nacional: só um evidente, o de que ele tenha que passar quatro anos conchavando, dando aqui e recebendo ali para poder governar e preparar as bases da re-eleição. E o país parado. Essa película até já desbotou de tão vista. Calejou os olhos, tanto que nem mais se enxerga.
Com um presidente com maioria no Congresso: dois evidentes; o de que se introduzam as tão faladas reformas da previdência e tributária (reforma social não está na pauta), de conteúdo desconhecido da maioria do povo. O outro, o da formação de uma 'dinastia', como no passado.

Mas essas não são as fundamentações comparativas que o povo adota. Influenciados nocivamente pelo aparelho ideológico religioso, hipocritamente, se deixam manipular por uma questão que já deveria ter sido erradicada a muito tempo das discussões: quem é a favor da legalização do aborto. Observemos que o tema, mais que uma questão moral ou religiosa, é uma questão de saúde pública, inerente especificamente, à mulher. Alguém já ouviu falar de um homem incriminado ou excomungado pelo que adveio depois da cópula consentida? Não. Nesses casos a mulher assume todas as consequências. São incentivadas, até, a que dêem à luz a uma criatura oriunda da violência, contra toda a sua repugnância, contra toda a sua humana incapacidade de conviver e ter que educar a progênie do seu agressor a fim de que ele nunca se transforme no que a corrompeu de corpo e alma, como nas situações de estupro. Nestes casos, são incentivadas pela Igreja. Ao Estado, cabe cumprir, malmente, o que determina a legislação para a assistência a esses casos. (Por falar nisso, a castração química de estupradores é um tema que dói no íntimo de quem, para ficar tão fora dos debates?).

Para César, o que é de César. Para Deus o que é de Deus. Ao governante o que é da política. À Deus, as coisas do espírito. Mas o que é de quem nessa zona de conflito político-religioso-capital-social?

Sendo prática no raciocínio: não deveríamos estar discutindo a legalização do aborto.
A ciência filosofa sobre quantas células são necessárias para que se possa dizer que um indivíduo é precisamente isto, (antes ou depois da formação do tubo neural do feto?).
As religiões, distantes dos avanços científicos se enclausuram em seus porões escuros e dá lá gritam: "Façam o que eu digo, não façam o que eu faço!", para uma horda de seguidores no 'estado vegetativo' de dormir, acordar, e entre um afazer e outro, procriar, porque este é o instinto.

São necessárias duas células para formar um indivíduo. Duas culpas ou duas remissões. Dois sins, simultâneos e concomitantes. Considerando que haja amor, não o amor dos bichos, porque até eles procriam. Entretanto, cada célula germinativa, está viva, e é, individualmente, a latência e o potencial de toda criatura de reprodução sexuada, entre elas, a criatura católica, criatura evangélica, criatura gnóstica, criatura agnóstica, criatura política, criatura apolítica, criatura alienada, criatura consciente, criatura douta, criatura rude, criatura macho, criatura fêmea. Criatura humana.

Deveríamos estar discutindo o controle do fluxo de procriar, um tipo de controle que fizesse qualquer 'Padre Amaro' se dar ao luxo de ser humano numa época em que existe a disponibilidade de conhecimentos médicos-científicos para nos redimir de ser tão-somente-humanos.

Um tipo de controle, que fizesse qualquer cobrador de pedágio para o céu se preocupar apenas com suas megalomanias em querer chegar a ele sem conhecer as coisas da Terra.

Deveríamos estar discutindo a ligadura de trompas e a vasectomia, enquanto medidas de interesse em saúde pública, como foco central do combate a interrupção da vida, sim porque a partir do momento em que duas células haplóides se fundem, tem início um novo ser, uma vida.

Deveríamos estar discutindo um novo conceito em bancos de células reprodutoras, para os casos de irreversibilidade das cirurgias.

Mas infelizmente, nos acostumamos a digerir muito do mesmo. Mídias manipuladoras de mentes, à sua conveniência. Líderes religiosos obtusos, sedentos de fama e dinheiro. Partidos políticos oportunistas e sem o mínimo escrúpulo para lidar com a ignorância e os preconceitos dos hábitos, reconhecidamente, colonialistas do povo. Uma escola rota, de princípio celetista e capitalista que produz indivíduos 'fazedores' ao invés de 'pensadores'.

Não há amor nem Deus nenhum em nada disso.

Resta o sexo. Restam as consequências dele: prazer e/ou dor. Crime e castigo, quando sabido. E amiúde, um dedo na ferida que de tanto tempo dentro, cicatriza junto com o ferimento, ou apodrece do mesmo modo que o pus.

Tudo como de hábito. Nosso maior risco somos nós mesmos, e corremos, em nome da fé pela fé e da esperança em milagres.

Jeanne Chaves

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Casseta de Planeta Globinho

Cinquenta por cento é maldizer,
quarenta por cento o patrão a vender,
dez por cento, inspiração da falta do que fazer.


Jeanne Chaves

terça-feira, 12 de outubro de 2010

A Informação Por Trás da Informação

Ou... Armadilha para Xucros, Incautos e Afins.


O comercial mais verdadeiro de todos os tempos.

O Comercial mais verdadeiro de todos os tempos.

Com quantas informações se constrói ou desconstrói uma verdade?

Sem enganos, assim, distante dos propósitos a que se destinam as informações acima, e fora da mídia para a qual foram produzidas, elas são exuberantemente violentas, simbolicamente violentas. Uma vende um produto sugerindo uma identidade. A outra, sugere uma identidade para vender uma idéia.

Parafraseando o poeta: "quem respira conspira."

Jeanne Chaves

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

43






Só de picuinha continuarei a votar em Marina no segundo turno.













Meninas do Hamas, Meninas do Jamais




Casamento coletivo de 450 homens do Islã.



Religião: certeza é que, por via das dúvidas, o homem crê no que inventa.



Jeanne Chaves








Mais Outra


Jeanne Chaves

sábado, 9 de outubro de 2010

Deus-Pacto






Há uma rotura, também, clareza e vertigem
nos olhos que me deste de olhar acima,
para o canto que convém à partida.

Tendo ficado, contudo, me misturo, perduro.

Satisfaz o telhado de estrelas ao meu escuro.

Pois, não Te sei. Se sabes quando morro,
se somente adormeço, não sei, Senhor.
Nada de omnisciência sei. Não saber nos isenta.

Minha culpa é que respiro, a Tua, a que Te faz
esconder o nome como se foras homem,
Te faz parecer homem como se fora Deus.

Apenas, sei que Teus pecados são os meus,
os meus, omnipresentemente Teus, por tê-los
criado no mesmo feitio que em mim Te criei.

Hoje, elas não vieram, deixaram o vento em paz.
Escuta como são bondosas essas tuas aves,
recolhem-se por uma partícula perdida a sós.

Não queria ser a harpa, me aprazia as cordas,
intervalo de dedos e braços, talvez, o toque,
onde eu Te pertença do cerne à raiz, campo ao grão.
Concertos de silêncios para uma única voz.

Calou-se, tal segredo, na foz, na margem, o rio.
Nenhuma gota se mexeu, galho algum se partiu.

Nada fecundou que conhecesse o seu destino,
é por isto que Hás de Ser como se fosses preciso.

Basta-me uma lauda velada entre os santos,
de tanta lonjura, de Ti, somente um motivo
para dizeres que És enquanto eu tenha sido.

Apaziguados nesse ato de mim para Contigo,
de Ti para comigo, selemos o nosso pacto,
então serei, serás feliz.


Jeanne Chaves
Foto: Reinaldo Lopes Moreira

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Literalmente



O Povo No Poder


A hora e a vez dos bobos da corte. São os tiros saindo pela culatra. As pretensiosas elites diária e de plantão se assustam. Princípio do fim? Não... O àpice de um começo. Por que, em verdade, todos querem fazer graça e quem ri por último ri sozinho...



Jeanne Chaves

sábado, 25 de setembro de 2010

Sobre Pizzas e Troblerones

O que tem essas duas iguarias em comum, além das origens em matérias primas cultiváveis?

O 'Caso Troblerone' teve como protagonista a deputada sueca, pelo Partido Social Democrata sueco, Mona Shalin. - "Comprei dois Toblerones, fraldas e cigarros..." Esta foi sua justificativa, na época, para ter usado em benefício próprio (apesar de que sempre fazia o ressarcimento das despesas), o cartão corporativo do governo sueco, mas não foi suficiente para abrandar a decisão do parlamento sueco, então, após abandonar todos os cargos que ocupava dentro do partido e na política, Mona Shalin dedicou-se a uma pequena empresa.
Deu seu jeito.

Aqui na terrinha, existem muitos jeitos, um deles, por exemplo, foi o encontrado pelo candidato ao governo do Distrito Federal, Joaquim Roriz: em dúvida se conseguiria ou não aprovação do registro de sua candidatura, tratou de indicar sua esposa, Weslian Roriz, ao governo, pelo PSC (Partido Socialista Cristão).

(Eita osso duro de roer que ninguém quer largar!).

Enquanto isso, na sala de justiça do Supremo Tribunal de Justiça os ministros se debatiam em divagações sobre se a Lei da Ficha Limpa seria aplicada a partir do pleito eleitoral deste ano de 2010. O resultado poderia ter sido outro, mas deu empate, convenientemente, ou uma demonstração clara de que a honestidade jamais foi o princípio de qualquer atividade política, ética ou moral, neste país, ou ainda, no mínimo, que a metade dos Ministros do Supremo Tribunal de Justiça não tem opinião formada sobre ela e se perdem na burocracia da própria formação.
No máximo, bom, seriam suposições sobre teias de negócios além da compreensão do eleitorado comum, inclusive a minha.

Em verdade, não se passou um único dia desde o descobrimento do Brasil em que ele tenha conseguido se governar sem corrupção, desde o heróico brado retumbante às margens do Ipiranga, que não foi mais que mero acordo entre os países que faziam parte da Companhia das Índias, neste caso específico, entre Portugal e Inglaterra, até o escândalo das Pedras Preciosas (Governo Militar); Escândalo do Grampo (Primeira Fase do Governo FHC); Anões do Orçamento (Governo FHC); Escândalo Palociano (Primeira Fase do Governo Lula); Furacão Erenice (Segunda Fase do Governo Lula), só para citar uns poucos que vieram a público e só por isso se tornaram escândalos.
O fato de alguns deles terem sido eficientemente varridos para baixo do tapete ou terem caído no esquecimento popular não quer dizer que não enraízem e aprofundem ainda mais a falta de princípios no cidadão comum, nem é possível dizer que sejam mais ou menos importantes que a corrupção ativa e passiva dos guardas de trânsito, só para citar um exemplo comum e diário.

Ilustremos a situação da falta de familiaridade com o princípio da honestidade:

Certo dia, em que a direção da minha repartição havia convidado todos os servidores para uma atividade de integração, onde seriam apresentados os avanços do órgão nas suas metas e objetivos e eu bastante entediada, como não ficaria se aquela fosse uma apresentação real de mamulengos, porque os avanços representavam bem menos do que os retrocessos visíveis, convenientemente, não abordados na ocasião, saí do auditório e pus-me a conversar com um colega, motorista da repartição.

Ele atacava o ‘terceiro setor’ no serviço público estadual com uma coerência socialista, mas eis que o discurso começou a degringolar quando fez comparações sobre o carrinho financiado que adquirira a duras penas e o imponente carro do Todo-Poderoso-Chefe do setor de compras do órgão. Ele dizia:

- É uma vergonha! Em menos de dois anos no cargo e ele já pode ter um carro desses, e eu, ralando pra levar arroz e feijão pra casa! Você sabe o que eu fazia se estivesse no lugar dele? Se alguém me dissesse: venda o Cristo Redentor; eu vendia; venda a Amazônia! Eu vendia! Eu também sou gente, também queria ter o que ele tem... O que é preciso fazer? Ter cuidado para não morder o saco de um político enquanto se baba ele? Ser político? Vou me candidatar!

O discurso era muito, muito sério. Claro que eu não votaria nele nem para “Rainha do Milho” e disse isso a ele. Bom, hoje esse colega nem me cumprimenta. Perdi o colega, mas não a piada. Além do mais, com colegas assim quem precisa de políticos?

O outro exemplo vem de uma conversa sobre o 'Caso Troblerone'. O cidadão com mais de oitenta anos de Brasil me disse o seguinte:

- Que besteira! Puniram a mulher por causa de um chocolate? Que coisa mais pobre!


Ele não entendeu que o chocolate era o fator de menor importância no fundamento da punição, mas sim o fato de ela ter usado uma prerrogativa e uma condição que era sua, mas não lhe cabia usar para adquiri-lo.

No caso de Mona, o parlamento sueco puniu severamente a falta do princípio da honestidade. O parlamento não perdeu a oportunidade de ser honesto. No caso do Supremo Tribunal Federal X Lei da Ficha Limpa... Bom, parece que como o povo, os senhores ministros ainda estão em busca de um consenso sobre este princípio.

Na terra onde 'em se plantando tudo dá', um troblerone pode degenerar em pizza, já que, por definição original, ambos são provenientes de matéria prima cultivável.


Jeanne Chaves

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O Quarto Poder e As Massas de Manobra Políticas

"Quando eu lembro da massa da mandioca, mãe... A dor da gente é dor de menino acanhado, menino bezerro pisado, no curral do mundo a penar..."

Há que se admitir, fazer política e discurso político na Colônia, é muito fácil. Passemos diretamente aos elementos dessa facilidade:

1) A população de cidadãos completamente analfabetos no Brasil soma hoje impressionantes 14,2 milhões. Sim, já foi bem maior este número, no entanto a metodologia aplicada pelo IBGE se utiliza da técnica da amostragem para realizar projeções estatísticas e, convenhamos, modelos matemáticos às vezes se prestam razoavelmente bem em substituição ao estudo 'in locu' das situações, por outro lado levanta questões curiosas e até filosóficas. Explico, comparativamente ao ano de 2003, quanto o número de analfabetos no país girava em torno de algo superior à 16 milhões, esta aparente redução dos índices em dois dígitos, não quer dizer, obrigatoriamente, uma verdade terminal. Pode querer dizer, apenas, que quando se pesquisa um cidadão ou uma família, se é que estes dados são gerados a partir da fonte, mas se são gerados a partir de dados coletados pelo MEC diretamente das escolas, qual o desvio padrão a ser aplicado em ambos os casos, nesse último, os números são 'descobertos' comparativamente a quê? Já que a escola é um sistema que só pode dar conta do que produz, e, o termo é exatamente este. Bom, mas a questão não é esta, embora seja importante. A questão é: o recrudescimento dos índices de analfabetismo está ligado à metodologia ou ao óbito dos cidadãos nesta condição? Já que a faixa etária na qual as pesquisas são aplicadas vai dos 14 aos 65 anos. Por violência, principalmente, nas faixas etárias mais jovens e por doenças, essencialmente, na população de idosos?
Então poderíamos dizer que o analfabetismo morreu em dois dígitos ou que a estatística se presta parcamente a visualização de projeções, mas não a resolução do problema. 2) Em 2001 o Instituto Paulo Montenegro, ligado ao IBOPE, principiou a fazer levantamentos chamados Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF), e em 2005, concluiu que apenas 26% da população brasileira lê e escreve plenamente. Pasmem senhoras e senhores! Somente, um em cada quatro brasileiros tem plena capacidade de ler, compreender e elaborar um texto. O conceito de analfabetismo funcional é difundido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Conclui-se então que essa massa de pessoas atua em sociedade, também, como inocente útil ao sistema dessa democracia, pois consegue, involuntariamente, auxiliar na apresentação da redução de índices de analfabetismo absoluto, mascarando os índices que são necessários, em termos de educação, para um país ser classificado como primeiro segundo, terceiro mundo e por aí vai. Contudo, é inapto para a elaboração de um senso crítico coerente com a realidade que o cerca. Esta situação perversa tem lá suas raízes históricas num tempo em que a elite intelectual subsidiava a elite política, em contra partida, a elite política se mantinha efetivamente no poder durante anos à fio, beneficiando os extratos sociais que lhes era conveniente. Qualquer sucessão ocorria entre os mesmos políticos dos dois partidos oficiais existentes, MDB (Movimento Democrático Brasileiro) e ARENA (Aliança Nacional Renovadora), apesar da proposta nos nomes, cortinas de fumaça. Num tempo, em os analfabetos não tinham direito ao voto nem se elegiam.

O MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização) se propunha, então, nos primórdios do Regime Militar, a erradicar o analfabetismo no Brasil, com o objetivo de angariar licitude para um governo que não era 'legítimo'. Trocando em miúdos: o governo militar era legal, mas não era legitimado pelo povo. O voto dos alfabetizados era de suma importância no processo da eleição de políticos 'biônicos', propostos por um colegiado militar e referendados através do voto popular. A escola pública era naqueles tempos o que ainda é nos dias atuais da democracia brasileira 'um aparelho ideológico' estruturado para reproduzir e atender as demandas políticas e econômicas do país, exclusivamente. Não há necessidade de uma 'massa pensante', mas de uma que faça só o que é necessário.

A otimização dos discursos políticos é de tal monta e, tão capcioso nas promessas sobre educação, que se fossem cumpridas, certamente, um número enorme dessas criaturas políticas não estaria parasitando nas Assembléias Legislativas, nas Câmaras Municipais, no Congresso e no Senado Federal. Cabe perguntar quem nasceu primeiro nesse ciclo vicioso... O político analfabeto funcional? (Depois de eleito, analfabeto de 'princípios' funcionais). Ou o inocente útil alfabeto funcional? E agora, uma rápida conversão matemática, para em números mais próximos do real, sabermos quantos somos ao todo: com aproximadamente 160 milhões de habitantes adultos, temos uma população de alfabetos funcionais de cerca de 120 milhões com a aceitação inadvertida da seguinte proposta de existência: "Dê-lhes uma possibilidade mínima de ascensão social, uma ilusão, a esperança de consumir mais. Mas lhes tire sobre o que pensar do contrário eles acreditarão ser verdade o que pensam.” 3) Sabendo que os estratos sociais de equilibram sozinhos, o discurso dos políticos utiliza a linguagem certa para atender gregos e baianos, os muito ricos, e os muito pobres, os privilegiados de conhecimento e senso crítico, o analfabeto, e o analfabeto funcional, as minorias e as maiorias. O segredo é não apresentar contradições na proposição das ações e, relevar ou desconsiderar os conflitos de interesses que surgiriam, isto, administram se eleitos, pois eles serão o poder legal e legítimo.
Por todas estas circunstâncias é que a estatística é indispensável à composição do cunho do discurso. Por ela, é possível projetar, por exemplo, que a população de usuários de drogas ilícitas representa um potencial insofismável e em franca expansão no Brasil. Curioso, é o modo que eles tratam as drogas como se estas proliferassem entre todos os estratos sociais, todos os poderes: legislativo, executivo e judiciário, como se fosse uma entidade com vontade própria, isentando o cidadão de culpa pelo 'sim' ao uso delas e, se eximindo das responsabilidades pela proliferação delas numa demanda crescente.

Não sei se é 'jumentice', oportunismo, ou ingenuidade, o fato é que a maioria dos candidatos nestas eleições majoritárias resolveu abraçar a causa da descriminalização do uso de drogas. O aspecto mais gritante dos discursos é a banalidade com que o fazem, sem considerar se a descriminalização fomentaria o tráfico, o que é mais provável.


Sem considerar a angústia e o sofrimento das famílias e dos amigos do usuário de drogas, pois mesmo que ele tenha à disposição, atendimento em clínicas especializadas no tratamento de drogados, quando retornam, as drogas estão lá, nas ruas e as histórias de sucesso pessoal na superação do vício, infelizmente, não podem constar das estatísticas, nem de forma mascarada.

Sem considerar que mais de oitenta por cento dos crimes que ocorrem nas capitais do país estão relacionados às drogas. Sem considerar que o tráfico de drogas é um grande e concorrido negócio, que se utiliza da ciência para viciar e vender mais, exemplo disto é o 'ecstasy', e, o 'desiree' (Canabis e crack) associados. E sem considerar os constrangimentos impostos aos não usuários nas ações da polícia.

Perdoem-me, mas não consigo esse desprendimento cristão e conformado. Por que quando um usuário diz sim as drogas está jogando não só com seu futuro, mas com os do não usuário, este fica refém do tráfico e da corrupção que corre frouxa dentro dos órgãos que deveriam coibir o uso e o tráfico de drogas. Mas, estão com suas estruturas administrativas tão podres que dão margem a que se utilizem delas como subterfúgio para a descriminalização. Infelizmente, um brutal atestado de incompetência dos poderes constituídos, assinado com letras garrafais. É mais fácil acreditar que o controle rígido desses órgãos, a punição sem os carinhos, que normalmente recebem os corruptores institucionalizados, é menos eficiente do que uma reforma tributária que faculte uma melhor distribuição de renda? O controle de nossas fronteiras, que mais parecem uma passarela? Sem hipocrisia, é mais fácil crer que o dinheiro do contribuinte coloca o Estado contra ele, mais do que o ajuda.

E vêm uns alienados-analfabetos funcionais-filósofos-de-ocasião, falar em Felicidade Interna Bruta (FIB), então eu pergunto? Com ou sem drogas? Com ou sem violência? Lavando as mãos com plebiscitos sobre o uso de drogas ou pondo elas na 'massa' e trabalhando o que precisa ser trabalhado?

Entretanto, o que esperar de uma massa que vai às ruas em marchas pela maconha, para atender seus anseios pessoais egoísticos, sua satisfação 'transcendental', suas fugas da realidade, em detrimento da compreensão dos fatores políticos, econômicos e sociais da pobreza neste país? Em detrimento de uma mudança real? Sem se importar se o aumento da produção e proliferação de drogas aqui forçaria um escoamento para países mais disciplinados e sérios na sua legislação e postura sobre o assunto, promovendo os mesmos conflitos e propiciando o aumento do consumo no mundo?

Nosso censo de coletividade nunca existiu, ou está obliterado pela nossa característica utilidade inútil. Nunca foi tão fácil vender idéias incongruentes neste país.

À caminho do tão esperado crescimento econômico, se atropela os passos, precocemente e, se o risco é calculado ou não, o analfabeto funcional é incapaz de se perguntar a quem interessa este estado de coisas.
Reconhecido o 'Quarto Poder', legítimo, mas não legal, o tráfico de drogas, poderemos dizer, sim, que ele surgiu 'do povo para o povo' brasileiro, com a anuência e colaboração dos poderes legais e legítimos constituídos.


 

Jeanne Chaves

sábado, 18 de setembro de 2010

Vivendo e Aprendendo

Aprender com o que se sabe não é desafio menor do que aprender a aprender.

Jeanne Chaves

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Mudança

Nem sempre, desejar mudar as coisas significa fazer coisas diferentes das que normalmente se faz, muitas vezes significa mudar a forma de pensar sobre as coisas que normalmente se faz.
Jeanne Chaves

domingo, 12 de setembro de 2010

Maia

Ela estava definhando, percebia-se no modo como cruzava em ziguezague a pequena e estreita ponte sob um dos incontáveis canais da cidade. Era manhã cedo, e eu a percebi primeiro. Andava com um cansaço de aceitação do irrefutável, do imutável. Quero dizer: ela não se defendia dos carros da rua de mão dupla, mas o contrário, os motoristas se defendiam de um homicídio, esperavam pacientemente que ela se decidisse na travessia. Então me dei conta: ela não enxergava! Mas, havia algo mais. Naqueles poucos momentos em que eu a observei, temendo que o sinal abrisse sem que fosse possível me assegurar se seria certo tomar uma decisão por ela, de saber se seria certo prorrogar o tempo do seu sofrimento, senti que ela, simplesmente, havia desistido de continuar vivendo.

Havia já uma intimidade entre nós, um entendimento do que seja cumprir um desígnio, mas em mim coube a sensação de poder em desafiá-lo, contra a vontade dela e do marido prático, porque viver não é nada prático.

Eu já vi, mais vezes do que desejaria, animais aguardando o sacrifício em diversos centros de controle de zoonoses. Sempre me vinha no pensamento a lembrança de cenas do holocausto judeu, onde os prisioneiros que seriam encaminhados para a morte se aglomeravam, se abraçavam e choravam. Pois é assim que os cães se comportam nestes centros; permanecem juntinhos uns dos outros, independentemente da idade, da raça ou do temperamento, como a tentar levar, aonde vão, um pouco do calor da vida. Eles se amparam e choram. E nos momentos finais, antes do extermínio, resistem, lamentam e urinam de raiva e de medo.

Pela comparação, aquela alternativa me pareceu fora de questão.

Foi assim que na família foi introduzido um sexto membro.

Nesta história, Maia explica um pouco a ‘metáfora do gafanhoto’, discutida há muito tempo com a minha amiga Cau Alexandre. Mas esta, eu conto outro dia.
Jeanne Chaves

Simplório Eleitoral



Agora, os coronéis vêm com seu riso insidioso, sua obsequiosidade, fazer acreditar que um canavial argelino pode ser melhor do que as suas ricas fazendas no agreste e vice-versa. Paisagens administrativas onde o Zé Povinho se alterna e se sucede, pilar de cantos perfeitos para a tessitura de teias e, crê, piamente, numa disputa entre duas forças ideológicas que lhe favorecerá o bem estar... Coitado! Simplório, rumina o Zé Povinho, elencando ídolos descartáveis entre artistas de novela e astros do futebol, a distrair os dias de espera do cumprimento das proclamadas promessas de melhor educação, saúde e justiça. Enquanto isso, o canavial fede, as fazendas fedem as impurezas dos propósitos das aves de rapina, iguais as de qualquer outra paisagem do quintal de Tio Sam.
Jeanne Chaves

terça-feira, 7 de setembro de 2010

A Opção de Voto Democrático Que Ninguém Ensina...

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Falando de Saudade



Saudade? São todos os sentidos sentindo a permanência daquilo que já não há, e até do que não foi jamais. Enquanto a vida passa ela vem e vai ficando.


Jeanne Chaves

domingo, 5 de setembro de 2010

O Cravo Espera

O vermelho desbota lado a lado ao verde.
Brasões fenecem impavidamente, tolamente
nos caldeirões virtuais do ouro de ninguém.

Agora que lamentas a hierarquia derreada,
agora que teu povo nas calçadas e escritórios,
espera o dia seguinte e a verdade de tudo ser falsa,

estendes tapetes amarelos, vermelhos e pretos
ao tropel do Touro de Europa, no covil de escorpiões
devoradores uns dos outros no hábito da conveniência.

E neste tempo em que as negras africanas e as
índias sul americanas desnudas de seios fartos
já não te acolhem a empáfia e promessas de servidão,
tu és um cravo a dormir na agonia dos dias melhores.

E nada há que não seja espera.
Jeanne Chaves

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Estado Bruto


Finalmente!


Com fotos de Daniel Bezerra, editoração e impressão da Editora Babecco, em novembro, ESTADO BRUTO estará nas livrarias. Sinto enorme prazer em dividir este momento com os leitores assíduos, amigos e visitantes ocasionais, pois este evento marca o início da aventura desta bióloga aqui pelos caminhos da prosa literária.
Espero que a leitura desse romance seja tão proveitosa quanto foi proveitoso escreve-lo.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Bendita Indignação



O pensamento é a característica mais preciosa e extraordinária do ser humano e existe, também, para que não precisemos eleger bodes expiatórios sobrenaturais das nossas responsabilidades não
assumidas.


Jeanne Chaves