sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A Ética da Ética








O jogo valia a ascensão à primeira divisão dos times estaduais de futebol. Quarenta e cinco minutos do segundo tempo, zero a zero no placar.

Ele recebeu um passe preciso na meia lua. Ergueu a bola, girou o corpo e chutou, com a consciência de que recebeu o passe em situação de impedimento.

A bola viajou e numa curva perfeita descansou na rede. Rapidamente ele se levantou e ainda de costas para o seu campo de defesa, ergueu o braço e gesticulou negativamente.

O juiz, com o apito a meio caminho da boca olhou para o bandeirinha reduzindo a corrida para o centro de campo, na intenção de validar o gol. As torcidas, pasmas, fizeram silêncio. Os jogadores do seu time partiram para cima dele.

O capitão do time praticamente cuspiu na cara dele:

- Tá doido? Acabou de jogar milhões em patrocínio da primeira divisão no lixo. Tu tá acabado... Canalha!

O juiz, gritando para se fazer ouvir entre os palavrões dos jogadores e os aplausos da torcida beneficiada com a anulação do gol, disse:

- Você é um homem!

Tomando a bola nas mãos, correu para o centro do campo e apitou o final da partida.

A torcida do time do anti-herói, gritou:

- Frouxo! Viado!

Alguns lhe atiraram coisas no caminho dos vestiários.

O técnico, fleumático, acusou:

- Você conseguiu ferrar com tudo! Eu mesmo vou pedir sua dispensa. Futebol é esporte pra macho, seu merda!

A quebradeira foi geral nas imediações do estádio. Ninguém se identifica com perdedores e o duelo que não fora ganho em campo prosseguiu fora dele. Suas almas tinham que ser lavadas com brutalidades que pudessem ser contadas em zombarias para os seus pares.

E o anti-herói do jogo? Perdidos os patrocínios individuais, aceitou a proposta de sociedade em uma academia de ginástica elegante onde, além da participação em outros lucros, teria uma porcentagem de comissão sobre a venda de esteróides anabolizantes.

Súmula: 'ao se pensar em ética, há que se saber a quem qual interessa'.




Jeanne Chaves






terça-feira, 26 de outubro de 2010

História Muito Infantil ou Democracia Selvagem






Naquele último ano da década de 2010, os Tupiniquins todos se juntaram na taba, cansados e sujos. Nem Iara Mãe D'água conseguiu lavar tanta sujeira e cansaço. No domingo, na ocara, reuniram-se, curumins e cunhatãs, guerreiros e índias, pajé, cacique e anciãos. Determinaram a extinção dos Tucanos. Vieram Mula Sem Cabeça, Saci Pererê, Boi Tá Tá e Caipora interceder pelas aves bicudas, argumentando:

- Já se foram a carnaúba e a peroba, suas caras brilham delas. Que mal fizeram os bicudos?

Então, o Cacique disse com seu rosto brilhante de peroba:

- Eles comem demais. A continuar assim não restará nada para as outras aves. O equilíbrio da floresta correria grande risco,, e não sobrariam nem as fábulas.

Uns tucanos bateram asas em debandada, outros tentaram se transmutar em aves diferentes, outros menos espertos disfarçaram e choraram.

Estavam salvas as fábulas... E as consciências tranquilas por haverem ajudado a preservar o equilíbrio da selva

Quando não restava mais nenhuma forma de vida tucana, os Tupiniquins tomaram pucus diferentes.

Jeanne Chaves




quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Festa Pobre


Para bom entendedor meia palavra basta, para todos os outros existe o Photoshop!

A distibuição das fatias de mais esse bolo ja começou. Façam fila! Parentes e amigos primeiro! Quem não estiver satisfeito vista a roupa e vá embora. A fila tem que andar no cabidão...

Jeanne Chaves

domingo, 17 de outubro de 2010

Riscos Brasil:

Com um presidente sem maioria no Congresso Nacional: só um evidente, o de que ele tenha que passar quatro anos conchavando, dando aqui e recebendo ali para poder governar e preparar as bases da re-eleição. E o país parado. Essa película até já desbotou de tão vista. Calejou os olhos, tanto que nem mais se enxerga.
Com um presidente com maioria no Congresso: dois evidentes; o de que se introduzam as tão faladas reformas da previdência e tributária (reforma social não está na pauta), de conteúdo desconhecido da maioria do povo. O outro, o da formação de uma 'dinastia', como no passado.

Mas essas não são as fundamentações comparativas que o povo adota. Influenciados nocivamente pelo aparelho ideológico religioso, hipocritamente, se deixam manipular por uma questão que já deveria ter sido erradicada a muito tempo das discussões: quem é a favor da legalização do aborto. Observemos que o tema, mais que uma questão moral ou religiosa, é uma questão de saúde pública, inerente especificamente, à mulher. Alguém já ouviu falar de um homem incriminado ou excomungado pelo que adveio depois da cópula consentida? Não. Nesses casos a mulher assume todas as consequências. São incentivadas, até, a que dêem à luz a uma criatura oriunda da violência, contra toda a sua repugnância, contra toda a sua humana incapacidade de conviver e ter que educar a progênie do seu agressor a fim de que ele nunca se transforme no que a corrompeu de corpo e alma, como nas situações de estupro. Nestes casos, são incentivadas pela Igreja. Ao Estado, cabe cumprir, malmente, o que determina a legislação para a assistência a esses casos. (Por falar nisso, a castração química de estupradores é um tema que dói no íntimo de quem, para ficar tão fora dos debates?).

Para César, o que é de César. Para Deus o que é de Deus. Ao governante o que é da política. À Deus, as coisas do espírito. Mas o que é de quem nessa zona de conflito político-religioso-capital-social?

Sendo prática no raciocínio: não deveríamos estar discutindo a legalização do aborto.
A ciência filosofa sobre quantas células são necessárias para que se possa dizer que um indivíduo é precisamente isto, (antes ou depois da formação do tubo neural do feto?).
As religiões, distantes dos avanços científicos se enclausuram em seus porões escuros e dá lá gritam: "Façam o que eu digo, não façam o que eu faço!", para uma horda de seguidores no 'estado vegetativo' de dormir, acordar, e entre um afazer e outro, procriar, porque este é o instinto.

São necessárias duas células para formar um indivíduo. Duas culpas ou duas remissões. Dois sins, simultâneos e concomitantes. Considerando que haja amor, não o amor dos bichos, porque até eles procriam. Entretanto, cada célula germinativa, está viva, e é, individualmente, a latência e o potencial de toda criatura de reprodução sexuada, entre elas, a criatura católica, criatura evangélica, criatura gnóstica, criatura agnóstica, criatura política, criatura apolítica, criatura alienada, criatura consciente, criatura douta, criatura rude, criatura macho, criatura fêmea. Criatura humana.

Deveríamos estar discutindo o controle do fluxo de procriar, um tipo de controle que fizesse qualquer 'Padre Amaro' se dar ao luxo de ser humano numa época em que existe a disponibilidade de conhecimentos médicos-científicos para nos redimir de ser tão-somente-humanos.

Um tipo de controle, que fizesse qualquer cobrador de pedágio para o céu se preocupar apenas com suas megalomanias em querer chegar a ele sem conhecer as coisas da Terra.

Deveríamos estar discutindo a ligadura de trompas e a vasectomia, enquanto medidas de interesse em saúde pública, como foco central do combate a interrupção da vida, sim porque a partir do momento em que duas células haplóides se fundem, tem início um novo ser, uma vida.

Deveríamos estar discutindo um novo conceito em bancos de células reprodutoras, para os casos de irreversibilidade das cirurgias.

Mas infelizmente, nos acostumamos a digerir muito do mesmo. Mídias manipuladoras de mentes, à sua conveniência. Líderes religiosos obtusos, sedentos de fama e dinheiro. Partidos políticos oportunistas e sem o mínimo escrúpulo para lidar com a ignorância e os preconceitos dos hábitos, reconhecidamente, colonialistas do povo. Uma escola rota, de princípio celetista e capitalista que produz indivíduos 'fazedores' ao invés de 'pensadores'.

Não há amor nem Deus nenhum em nada disso.

Resta o sexo. Restam as consequências dele: prazer e/ou dor. Crime e castigo, quando sabido. E amiúde, um dedo na ferida que de tanto tempo dentro, cicatriza junto com o ferimento, ou apodrece do mesmo modo que o pus.

Tudo como de hábito. Nosso maior risco somos nós mesmos, e corremos, em nome da fé pela fé e da esperança em milagres.

Jeanne Chaves

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Casseta de Planeta Globinho

Cinquenta por cento é maldizer,
quarenta por cento o patrão a vender,
dez por cento, inspiração da falta do que fazer.


Jeanne Chaves

terça-feira, 12 de outubro de 2010

A Informação Por Trás da Informação

Ou... Armadilha para Xucros, Incautos e Afins.


O comercial mais verdadeiro de todos os tempos.

O Comercial mais verdadeiro de todos os tempos.

Com quantas informações se constrói ou desconstrói uma verdade?

Sem enganos, assim, distante dos propósitos a que se destinam as informações acima, e fora da mídia para a qual foram produzidas, elas são exuberantemente violentas, simbolicamente violentas. Uma vende um produto sugerindo uma identidade. A outra, sugere uma identidade para vender uma idéia.

Parafraseando o poeta: "quem respira conspira."

Jeanne Chaves

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

43






Só de picuinha continuarei a votar em Marina no segundo turno.













Meninas do Hamas, Meninas do Jamais




Casamento coletivo de 450 homens do Islã.



Religião: certeza é que, por via das dúvidas, o homem crê no que inventa.



Jeanne Chaves








Mais Outra


Jeanne Chaves

sábado, 9 de outubro de 2010

Deus-Pacto






Há uma rotura, também, clareza e vertigem
nos olhos que me deste de olhar acima,
para o canto que convém à partida.

Tendo ficado, contudo, me misturo, perduro.

Satisfaz o telhado de estrelas ao meu escuro.

Pois, não Te sei. Se sabes quando morro,
se somente adormeço, não sei, Senhor.
Nada de omnisciência sei. Não saber nos isenta.

Minha culpa é que respiro, a Tua, a que Te faz
esconder o nome como se foras homem,
Te faz parecer homem como se fora Deus.

Apenas, sei que Teus pecados são os meus,
os meus, omnipresentemente Teus, por tê-los
criado no mesmo feitio que em mim Te criei.

Hoje, elas não vieram, deixaram o vento em paz.
Escuta como são bondosas essas tuas aves,
recolhem-se por uma partícula perdida a sós.

Não queria ser a harpa, me aprazia as cordas,
intervalo de dedos e braços, talvez, o toque,
onde eu Te pertença do cerne à raiz, campo ao grão.
Concertos de silêncios para uma única voz.

Calou-se, tal segredo, na foz, na margem, o rio.
Nenhuma gota se mexeu, galho algum se partiu.

Nada fecundou que conhecesse o seu destino,
é por isto que Hás de Ser como se fosses preciso.

Basta-me uma lauda velada entre os santos,
de tanta lonjura, de Ti, somente um motivo
para dizeres que És enquanto eu tenha sido.

Apaziguados nesse ato de mim para Contigo,
de Ti para comigo, selemos o nosso pacto,
então serei, serás feliz.


Jeanne Chaves
Foto: Reinaldo Lopes Moreira

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Literalmente



O Povo No Poder


A hora e a vez dos bobos da corte. São os tiros saindo pela culatra. As pretensiosas elites diária e de plantão se assustam. Princípio do fim? Não... O àpice de um começo. Por que, em verdade, todos querem fazer graça e quem ri por último ri sozinho...



Jeanne Chaves